sábado, 20 de novembro de 2010


"A construção de práticas inclusivas numa escola regular de ensino
fundamental do município de Amargosa-BA: uma perspectiva colaborativa"


Enquanto instituição social destinada à educação, a escola é um lugar privilegiado de co-existência e estabelecimento das diferenças, pois nela emergem os conflitos que nascem do encontro de diferentes sujeitos em situações diversas.Porém, a escola não tem dado espaço para aquele que, aos seus olhos, seja diferente,pois o cotidiano escolar exclui  e massifica, homogeiniza, nega o movimento, a criatividade e o convívio com a diversidade. Isso acontece porque a cultura escolar tem sido pautada na ambigüidade de práticas dicotômicas e arbitrárias (classificatórias,normalizadoras etc) que não levam em conta as necessidades dos sujeitos. Desse modo, a escola trabalha numa polarização que não admite a dialeticidade da existência: a razão é colocada em oposição à "loucura", o inteligente em oposição ao "retardado", o competente em oposição ao "incompetente". Estes conflitos são instalados por conta da tendência homogeneizadora da escola e da resistência ou impossibilidades concretas dos sujeitos em situação de diferença de assumirem o que lhes é proposto. Assim, a instituição escolar estabelece o estereótipo do bom e, conseqüentemente,do mau aluno e impõe esse significado através do discurso. O mau aluno é o que difere daquilo que se deve fazer.Nesse caso, a ação sobre o diferente é no sentido de excluir, pois a diferença produz um incômodo e constitui-se umdesafio para a escola. Esse processo de estranhamento,hostilidade e não acolhimento está muito presente na instituição escolar e o discurso que ela produz não possui efeito apenas simbólico, mas funciona como prática que forma aquilo e aqueles de que se fala. No entanto, apesar dessa tendência ao desenvolvimento de práticas excludentes, a escola tem sido colocada diante do desafio de desenvolver uma proposta inclusiva devendo responder à diversidade de necessidades que se apresentam em seu cotidiano. De acordo com a Declaração de Salamanca (1994) elaborada como documento final da Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas Especiais realizada pela UNESCO, cabe à escola incluir: crianças com deficiência, altas habilidades, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizados. Entretanto, pesquisas realizadas sobre a realidade da educação inclusiva em municípios do Vale do Jiquiriçá (PIMENTEL; PAZ, 2007, 2009b, 2009c; PIMENTEL; PAZ; PINHEIRO, 2009a), região do Recôncavo Sul do estado da Bahia, apontam que os gestores de escolas regulares consideram que a ausência de uma política de formação continuada dos professores para o trabalho com a diversidade é a maior barreira para que a inclusão aconteça. Ainda de acordo com essas autoras, os próprios estudantes com deficiência confirmam a predisposição da escola em desenvolver práticas homogêneas, a ausência de materiais didáticos adaptados e de acessibilidade ao currículo, a resistência dos colegas em aceitá-los e respeitá-los, a dificuldades dos professores de incluí-los no  processo de aprendizagem. Diante dessa realidade já diagnosticada, tem-se o desafio de se operacionalizar práticas inclusivas em escolas regulares do ensino fundamental em Amargosa, município pertencente ao Vale do Jiquiriçá,onde está localizado o Centro de Formação de Professores (CFP) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Assim, essa pesquisa intitulada "A construção de práticas inclusivas numa escola regular de ensinofundamental do município de Amargosa-BA: uma perspectiva colaborativa" será desenvolvida a partir da metodologia pesquisa-ação colaborativa que prevê o estabelecimento de uma parceria entre a universidade e a escola objetivando uma ação planejada comum, ou seja, uma pesquisa de intervenção realizada colaborativamente entre os profissionais da escola regular e da universidade garantindo uma participação ativa dos diferentes atores colaboradores. Como um trabalho colaborativo requer uma ação conjunta, a escolha da escola se fará com base nos critérios de: pertencer a rede municipal de ensino do município de Amargosa, possuir o maior número de alunos com deficiência matriculados no ensino fundamental e manifestar interesse em participar da investigação. Após a seleção da escola, a pesquisa será desenvolvida em dois momentos complementares: diagnóstico inicial dos saberes e práticas de inclusão implementadas pela escola e posterior estudo sobre temáticas relacionadas à educação inclusiva para a formação dos profissionais da educação que atuam no contexto escolar, planejamento e avaliação de práticas inclusivas. A investigação será desenvolvida por uma equipe multiprofissional de pesquisadores pertencentes ao CFP/UFRB. Pretende-se que essa pesquisa possa contribuir para a construção de um contexto inclusivo para as pessoas comdeficiência na escola regular e que fomente políticas públicas municipais voltadas para efetivação de práticas inclusivas.


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